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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

As humilhações



As humilhações





"(...) Se a paciência é o caminho que conduz à paz e o estudo o caminho que conduz à ciência, a humilhação é o único caminho que conduz à humildade.

Existem momentos na vida espiritual em que a alma se sente profundamente humilhada. Luzes muito concretas e muito claras de Deus Nosso Senhor põem a descoberto e fazem sobressair tudo o que de mais humilhante possam ter as nossas misérias e as nossas deficiências, as nossas inclinações e as nossas imperfeições, os nossos defeitos. Os olhos da nossa alma abrem-se para o que somos sem querer, para o que sentimos sem querer e para o que nos atrai, embora o detestemos.

(...) Não te esqueças de que é o amor de Deus por ti que te proporciona estas luzes de conhecimento próprio, este sentimento do que foste ou do que és, esta humilhação cuja força estimulará a tua alma a enveredar pelo caminho da humildade. (...) a nossa reação sobrenatural em face das humilhações deve ser a de um ato de profunda ação de graças: gratias tibi quia humiliasti me. Esta humilhação interior ou aquele insucesso exterior deixarão a tua alma impregnada de humildade e darão à tua vida uma santidade maior e, muito provavelmente, uma nova eficácia às tuas atividades.
Não penses que é pior, agora que vês o que antes não vias, agora que sentes profundamente o que antes não sentias, agora que tiveste ocasião de conhecer uma deficiência do teu caráter, da tua formação e das tuas atitudes. Não és pior, és melhor, ou, pelo menos, estás em ótimas condições de melhorar. Se os soubeste aproveitar, esses momentos fizeram-te percorrer metade do caminho, porque sabes onde se encontra o mal que deves combater e sabes também que precauções deves tomar para evitar surpresas.
(...) Devemos aceitar a humilhação ou o insucesso com verdadeira humildade, com essa humildade a que se chama de coração, porque nele tem as suas raízes e dele extrai toda a sua força.
Não deves apenas repelir a revolta, mas também evitar com cuidado qualquer justificação diante de ti mesmo e dos outros. (...) Não te justifiques! Não te justifiques diante da tua alma só e humilhada! Afoga na humildade o argumento soberbo que aparentemente fecharia uma ferida mal cicatrizada. Desbarata corajosamente o contra-ataque do orgulho disposto a recuperar as posições que o teu amor próprio perdeu. Vira as costas e a cara aos afagos insidiosos da soberba.
E nunca deves desanimar ante as humilhações. (...) O bálsamo do otimismo e da confiança fará que a ferida – cauterizada pela humildade – cicatrize perfeitamente e se transforme num troféu de glória. (...) Que bom ponto de partida para a nossa confiança é a humilhação recebida com alegria!
Agora sou mais consciente das minhas fraquezas, poderei apoiar-me eficazmente na fortaleza de Deus. Esta esperança reavivará o amor adormecido e fará (...) que encontremos palavras apropriadas para o exprimirmos ao Senhor. (...) E o peso que te oprimia desaparece, e da humilhação apenas restam humildade, experiência, confiança e amor. (...)"


Excerto do livro "Ascética Meditada",  Salvatore Canals, 



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