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sábado, 15 de outubro de 2016

A PEQUENA VIRTUDE DA ESPERANÇA





"Aqui em baixo, tudo termina; em no entanto, nada termina, tudo recomeça. Ao finalizar o ano, fazemos por dentro as contas das alegrias e das tristezas que nos trouxeram esses 365 dias. Os dias bons passaram, e os maus também jamais voltarão. Talvez a lembrança de um luto nos aperte o coração; o rosto da pessoa amada, é bem verdade, não o veremos de novo. Melancolia dos dias que se vão e não voltam mais.
Mas já no dia seguinte a casa se enche da algazarra das crianças, que vos desejam os votos tradicionais: "Feliz Ano Novo"! E essa alegria dos pequenos acende em vós algo de muito mais maravilhoso, posto por Deus no coração dos homens: a pequena virtude da esperança.

Talvez achemos estranho chamar à esperança "pequena virtude", pois é nada menos que a segunda das três virtudes teologais. E temos razão, porque a esperança é, com efeito, uma virtude muito grande, pois o seu objeto é o próprio Deus possuído no céu; e para não duvidarmos de tal felicidade, nós que vivemos na obscuridade, rodeados de dificuldades e de sofrimento, devemos fazer um ato de fé total na bondade de Deus, e amá-lO com um amor semelhante ao Seu, um amor que se dá antes de ter recebido.

Hoje podemos conjurar os males de amanhã que resultariam das nossas imprudências; amanhã, será tarde demais. Hoje podemos medir as consequências de nossos atos; amanhã, só as poderemos sofrer.

Basta a cada dia o seu cuidado. A esperança cristã, obrigando-nos a viver unicamente o dia de hoje, poupa-nos as decepções e os desânimos. 

Não nos embriaguemos com amanhãs; cumpramos tranquilamente o nosso dever hoje, que conhecemos, e saberemos cumprir o de amanhã, que ignoramos.

Basta a cada dia o seu cuidado. Basta-nos carregar o fardo de hoje, que foi feito à medida dos nossos ombros. O amanhã cuidará de si mesmo. Deus nos dará amanhã forças novas para enfrentarmos as novas dificuldades que hoje ignoramos.

Então Deus proíbe-nos de prepara esses amanhãs desconhecidos? DE MANEIRA NENHUMA,  pois os que não enxergam além do dia de hoje correm grande ruína. O Senhor nos proíbe apenas que nos inquietemos com o amanhã. A imprevidência é uma falta porque sacrifica o futuro ao presente; mas a inquietação não é um erro menos grave, pois sacrifica o presente ao futuro.

A inquietação é sempre prejudicial e geralmente ilusória. Quando nos prevenios contra todos os males que julgamos possíveis, ou não acontece nada - e ficamos com as despesas por nossa conta -, ou acontece outra coisa que não prevíamos. "Os covardes - dizia Shakespeare - morrem muitas vezes antes de morrer."

A inquietação é desmoralizante: não afasta os males que se temem mas antecipa-os; aumenta as dificuldades; destrói o amor ao risco, sem o qual o homem perde toda a coragem. Lembremo-nos destas linhas tão simples e tão verdadeiras de Péguy: "Eu não gosto - diz Deus - daquele que especula com o amanhã. Não gosto daquele que sabe melhor do que Eu o que farei amanhã. Pensai no amanhã; mas não vos digo: calculai esse amanhã. Não sejais como o infeliz que dá voltas e se consome na cama para saber o que será o dia de amanhã. Sabei unicamente que esse amanhã de que sempre se fala é o dia que vai seguir a este, e que estará sob meu comando como todos os outros."

Cultivemos no lar a pequena virtude da esperança, que elevará o nosso olhar para Deus e nos tornará capazes de todas as coragens, pois nos livrará de todos os receios. A este preço posso desejar a todos, sem enganar ninguém, um feliz Ano Novo.

Sim, feliz Ano Novo, porque Deus é bom e cuidará de nós. Feliz Ano Novo porque, vivendo apenas o dia de hoje, sem perdermos uma única ocasião de fazer o bem, experimentaremos e espalharemos felicidade.

Feliz Ano Novo porque, ao invés de nos inquietarmos sem razão, apreciaremos todas as horas de paz que Deus nos concederá. Feliz Ano Novo, mesmo que surjam contrariedades inesperadas, pois as horas duras robustecerão nosso caráter, e porque Deus não permitirá que se perca uma só gota do nosso suor, uma só gota das nossas lágrimas.


Excerto do livro "As pequenas virtudes do lar",
de Georges Chevrot



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Um comentário:

  1. Muito obrigada por estas postagens. Tenho tido muita dificuldade em encontrar o livro e agora conseguir ler excertos do livro, é mesmo uma prenda de Natal. Muito obrigada

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