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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Da maledicência e das palavras injuriosas.








1     —  Há  muitas  escolas  no mundo  onde  se  ensina  a  falar bem;  não  há  porém nenhuma  onde  se  ensine  a  calar-se  bema não  ser  a  de  Jesus  Cristo.  Se nesta  escola  aprendeis  a  calar-vos,  aprendereis também  a falar bem,  isto  é,  a  falar  segundo  a caridade  para  com  o  próximo  e, portanto,  evitar  primeiro  que  tudo  a  murmuração.

2 —  A  murmuração  consiste:
1º. Em  atribuir  ao  próximo  o mal  que  nele não existe;
2º. Em exagerar o  mal  que ele  cometeu;
3º. Em  manifestar  o  mal que é ocultosem  motivo  algum  de necessidade  ou  de utilidade; 
4º. Em  interpretar  o  bem  maliciosamente ;
5º. Em negar,  ocultar  ou diminuir  o  louvor que  o  próximo merece.


3  — Acostumai-vos  a  não  falar  do  procedimento  dos  outros nas  coisas que vos não dizem respeito.  Temos  muito  que fazer em nós  mesmos  e  no  nosso  interior, sem  que  nos  seja  preciso  importar-nos  com  o  que  diz  respeito aos  outros. É isto um  excelente remédio contra  a  maledicência.

4 —  Quando  São  Pedro  teve a  curiosidade  de  perguntar a  Jesus  Cristo  o  que  aconteceria  a João,  Nosso  Senhor  deu-lhe esta celebre  resposta:  “Quid  ad  te? Tu me sequere”. – “Que te importa a ti? Segue-me”.
Porque perguntas coisas com as quais não te deves  importar? Teu dever  é  seguir-me,  e  nada  mais.
O mesmo deveis dizer convosco, quando  a  curiosidade  vos  excita a  examinar e  criticar  as  ações dos  outros.

5 —  Não  sejais,  todavia,  como  essas  pessoas fracas  que, com medo  de  caírem  na murmuração, querem  fazer  a apologia de todos os crimes  e culpas. 
Quando  as faltas  ou  culpas  são  conhecidas, ou ainda quando são ocultas,  mas nocivas às almas simples e inocentes  é  necessário  desmascará-las; por isso São  Francisco de Sales dizia:Gritar  contra o  lobo, é ser caritativo  para  com as  ovelhas”. Aquele  que  vê  o  ladrão  roubar  o seu próximo, tem obrigação de gritar  contra  o  ladrão, e  avisar aquele  que é  roubado, para  que se possa  defender.  Com  maior razão devemos  fazer  o  mesmo àqueles que procuram  roubar  furtivamente  a  inocência,  corrompendo os costumes  e  a  doutrina.




6  —  Peca  igualmente,  tanto  o  que  detrai  com  malícia,  como  o  que  escuta  com  prazer  a murmuração:  entre  o  primeiro  e o  segundo  não  há  outra diferença,  diz  São.  Bernardo,  senão  esta: “Aquele que murmura maliciosamente tem o demônio na língua, e aquele que ouve com prazer a murmuração tem o demônio nos ouvidos”.




7 — Eu  disse: aquele  que  ouve  com prazer  a  murmuração; porque  se  a  ouvistes  e  não  a aprovais, não  consentis  e, portanto, não  pecais.

8 — Se  o  mal  que  o  maldizente  imputa  ao  próximo  é falso,  negai-o; se  ele  é  oculto ou  exagerado,  procurai  habilmente  desviar a  conversação  para  outro  objeto,  ou  antes  tomai  uma  severa  gravidade  ou  um  significativo silêncio,  conforme  as circunstâncias  do  tempo,  do  lugar  e  das pessoas.

9 — Além disso,  o  mal  pode ser  bem  conhecido  e  real, ainda que dele não tenhais o menor conhecimento.  Neste  caso, aquele que fala dele não peca, e aquele  que  ouve  não  é  obrigado  a fazer  a  fraternal  correção.
Ademais,  a  não  ser que tenhais um  perfeito conhecimento do contrário,  não  deveis formar má  opinião  do próximo,  nem supor que aquilo  que  diz é falso  ou  está revelando  o  que  é  segredo.

10  —  Não  somos  obrigados a repreender  o  detrator,  quando não  temos  uma esperança fundada  da sua  emenda
A  correção é  um  remédio  de  que  se  lança mão  só  quando  há esperança de que  pode  ser  útil  ao  doente.




11  — Os  sarcasmos,  as  injúrias,  os  desprezos  são  também um  veneno  mortal  para  a  caridade:  é por  isso  que  o  Espirito Santo  disse: “Tende cuidado que  a vossa  língua não caia no pecado,  com  receio  de  que  a  vossa ferida seja, incurável”.

12 — Aquele  que  fere  a  reputação  ou  a  honraé  mais  culpado  ainda  que  aquele  que  ataca  a  fortunanem  alcançará  de Deus  o  perdão,  se  ele,  podendo, não  reparar  o  dano  que fez.

13 —  Vigiai,  pois, sobre a vossa língua,  que  São  Tiago  chama um mundo de iniquidades, não vos esqueçais  deste  belo pensamento  de  São  Basílio: “Deus  não  pôs aos nossos ouvidos nenhuma defesa, para estarmos  prontos a  ouvir: deu  aos  olhos  uma  defesa por  meio  das  pálpebras;  quis, porém,  que  a  língua fosse defendida por  duas  fortes  barreiras,  os  lábios e os  dentes, a fim de que soubéssemos  o grande  dever que  sobre  nós  pesa  para  que  a guardemos.

14  —  Entretanto,  notai  que  a virtude  não  consiste  em  não  falar,  porque então os mudos seriam de  todos  os  homens  os mais virtuosos; a virtude consiste  sim  em  falar como  é  necessário,  isto  é,  nos  lugares  e circunstâncias em que é conveniente falar e pelo modo como se deve falar.

15  —  As  conversações  sobre as coisas  indiferentes servem  para  entreter  uma  honesta  sociabilidade,  e  podem, por  conseguinte, ser  referidas  a  Deus.

As palavras ociosas,  que  o  Evangelho  condena,  não  pertencem  a  esta classe.



Excerto do livreto: "DIREÇÃO PARA VIVER CRISTÃMENTE", 
do Rev.  Padre  Quadrupani - Barnabita.



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