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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

EM QUE CONSISTE A PERFEIÇÃO CRISTÃ.









“Filha amantíssima em Cristo se queres alcançar o cume da perfeição, chegar ao teu Deus, e te unires a Ele – empreendimento mais nobre que quantos outros se possam imaginar – deves, primeiro, conhecer em que consiste a verdadeira vida espiritual.

Muitos, sem pensar, julgam que ela consiste:
· na austeridade de vida,
· no castigo da carne,
· nos cilícios,
· nos açoites,
· nas longas vigílias,
· nos jejuns,
· em outras penitências e fadigas corporais.


Outras pessoas, mulheres especialmente, pensam ter chegado à grande perfeição quando:
· rezam muito,
· ouvem muitas Missas e longos Ofícios,
· frequentam as igrejas e a Sagrada Comunhão.

Outros, ainda, e entre eles, certamente, muito religioso de convento, chegaram à conclusão de que a perfeição consiste:
· na frequência ao coro,
· no silêncio,
· na solidão e
· na disciplina.

E, assim, variam as opiniões, e uns colocam a perfeição nisto e outros, naquilo. 

A verdade, porém, é muito outra. Tais ações são, às vezes, meios de adquirir o espírito e, às vezes, frutos do espírito. Não se pode, porém, dizer que somente nestas coisas consista a perfeição cristã e o verdadeiro espírito.

Se, porém, põem todo o fundamento de sua virtude nas ações exteriores, estas ações – não por serem defeituosas, pois são santíssimas, mas pelo defeito de quem as usaserão, às vezes, a causa de sua ruína, mais que os próprios pecados, pois estas almas apenas prestam atenção às suas ações, largam o coração às suas inclinações naturais e ao Demônio oculto.

A alma logo se persuade já estar nos coros angélicos e possuir Deus em sua alma. Embevece-se em altas meditações, em curiosos e deleitantes pensamentos e, quase esquecida do mundo e das criaturas, pensa estar no “terceiro céu”. Está, porém, enganada e longe da perfeição.

Pela vida e pelos costumes destas pessoas, muito facilmente poderemos deduzi-lo.
* Querem sempre, nas coisas pequenas e nas grandes, ser os preferidos.
Querem que sua opinião e sua vontade sejam sempre respeitadas.
* Não reparam nos próprios defeitos, e observam e criticam os defeitos do outros.
* Querem que os outros façam deles excelente juízo, e se comprazem nisto.
* Mas se tocas de leve em sua reputação, ou se falas da devoção que eles exibem, logo se alteram e muito se inquietam.
* E se Deus, para levá-los ao conhecimento verdadeiro deles mesmos e à estrada da perfeição, lhes manda trabalhos e enfermidades, ou permite perseguições (que nunca vêm sem a Vontade Divina, que, às vezes, o quer e às vezes o permite, e são a pedra de toque com que Ele examina a lealdade de Seus servos), então se descobre a base falsa da sua devoção.

Vê-se que têm o interior corrompido pela soberba, porque, nas diversas circunstâncias, sejam alegres ou tristes, não se humilham perante a Vontade Divina, respeitando os justos e secretos juízos de Deus. Estes estão em grave perigo de cair, porque têm o olhar interno obscurecido.  É com este olhar que contemplam a si mesmos e suas obras externas boas, atribuindo-se muitos graus de perfeição. E, ensoberbecidos, julgam os outros. A não ser um auxílio extraordinário de Deus, nada os converterá.

A virtude outra coisa não é senão:
-> o conhecimento da Bondade e Grandeza de Deus e da nossa nulidade e inclinação ao mal;
->  o amor de Deus e o ódio de nós mesmos;
-> a sujeição, não somente a Ele, mas, por seu amor, a toda a criatura;
-> o desapropriamento da nossa vontade e o acatamento total de Suas divinas disposições; por fim,
-> querer e fazer tudo isso para a glória de Deus, para Seu agrado, e porque Ele quer e merece ser amado e servido.

Esta é a lei do amor, impressa pela mão de Deus nos corações de seus servos fiéis. Esta é a negação de nós mesmos, que Ele exige de nós. Se aspiras a tanta perfeição, deves fazer contínua violência a ti mesma, para combateres generosamente e aniquilares todas as tuas vontades, grandes e pequenas.

Para isso, é necessário que, com grande prontidão de ânimo, te aparelhes para esta batalha, pois só é coroado o soldado valoroso.

Se tratares de sufocar todos os teus apetites desordenados, teus desejos e vontades, mesmo muito pequenas, maior serviço farás a Deus do que se te flagelares até o sangue, se jejuares mais que os antigos eremitas e anacoretas, se converteres milhares de almas, guardando vivos, voluntariamente, alguns destes apetites.


Excerto adaptado do livro "Combate Espiritual e o Caminho do Paraíso"

do Ven. Servo de Deus PADRE LOURENÇO SCÚPOLI


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