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domingo, 26 de fevereiro de 2017

Dos pecados que se devem evitar, suas raízes e consequências. Parte 5








O exame de consciência, longe de apartar-nos do pensamento de Deus, aponta-nos para ele. Deve-se inclusive pedir-lhe luz para enxergar um pouco a alma como o próprio Deus a vê, para enxergar o dia ou a semana que passaram como se os víssemos escritos no livro da vida, à maneira de como os veremos no dia do Juízo Final.

Por isto temos de repassar cada noite, com humildade e contrição, as faltas cometidas de pensamento, palavra, ação e omissão.

No exame deve-se evitar a minuciosa investigação das menores faltas, tomadas em sua materialidade, pois semelhante esforço poderia fazer-nos cair em escrúpulos e esquecer coisas mais importantes.

Trata-se menos de uma completa enumeração das faltas veniais que da investigação e acusação sinceras do princípio de onde geralmente procedem.

A alma não deve se deter em demasia na consideração de si mesma, deixando de olhar para Deus. Pelo contrário há de se perguntar, tendo os olhos fitos em Deus:
·        Como julgará Deus este dia ou semana que agora termina?
·        Foi este dia meu ou de Deus?
·        Busquei a ele ou a mim?

Desse modo, sem turbação, a alma julgar-se-á desde um plano elevado, à luz dos preceitos divinos, tal como se julgará no último dia. Mas, como diz Santa Catarina de Sena, não separemos a consideração de nossas faltas do pensamento da infinita misericórdia. Olhemos nossa fragilidade e miséria ao lume da infinita bondade de Deus que nos alevanta. O exame, feito deste modo, longe de desalentar-nos, aumentará nossa confiança em Deus.

Por contraste, a visão de nossos pecados nos esclarece o valor da virtude. O que melhor nos revela o valor da justiça é a dor que a injustiça produz. A imagem da injustiça que cometemos e o pesar de tê-la cometido devem nos despertar a “fome e sede de justiça”. Por contraste, é necessário:
·        que a fealdade da sensualidade nos revele a beleza da pureza;
·         que a desordem da ira e da inveja nos faça compreender o alto valor da mansidão e da caridade;
·        que as aberrações da soberba nos ilustrem acerca da elevada sabedoria da humildade.

Peçamos a Deus inspirar-nos um santo aborrecimento do pecado, que nos separa da divina bondade, da qual tantos benefícios recebemos e esperamos para o porvir.

Esse santo ódio do pecado não é, de certa forma, senão o outro lado do amor de Deus. É impossível amar profundamente a verdade sem detestar a mentira, amar de coração ao bem, e o soberano Bem que é Deus, sem que por sua vez detestemos o que nos separa de Deus.





Excerto do livro "As três idades da vida interior"
do padre Reginald Garrigou-Lagrange
(Grifos nossos)











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