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quarta-feira, 8 de março de 2017

A grande traição: a mentalidade católico-liberal (Parte 2)


O beijo de Judas (Caravaggio)



Colocar-se em harmonia com o mundo

Desculpar em demasia, que expressão oportuna! Querem desculpar todo o passado da Igreja: as cruzadas, a inquisição, etc.; porém quanto a justificar e demonstrar, eles só o fazem timidamente, principalmente quando se trata dos direitos de Jesus Cristo; mas adaptar, a isso certamente eles se entregam: eis seu princípio:  

"Partem de um princípio prático que consideram inegável: que a Igreja não seria ouvida no ambiente concreto onde Ela deve cumprir sua missão divina, se Ela não se harmonizar com ele."[6]


Posteriormente os modernistas quererão  adaptar a prédica do Evangelho à falsa ciência crítica e à falsa filosofia imanentista da época, "esforçando-se em tornar a verdade cristã acessível aos espíritos treinados para negar o sobrenatural."[7] 

Segundo eles, para converter os que não crêem no sobrenatural, é necessário fazer abstração da Revelação de Nosso Senhor, da Graça, dos milagres... Se você tem de tratar com ateus, não fale de Deus, coloque-se no nível dele, sintonize-se com ele, entre no seu sistema! Por esse caminho você será em breve marxista-cristão: eles é que o terão convertido!

Este foi também o pensamento da Missão de França a respeito do apostolado entre os operários, e que ainda sustentam numerosos sacerdotes: se queremos convertê-los devemos trabalhar com os operários, compartilhar suas preocupações, conhecer suas reivindicações, não nos mostrar como sacerdotes; assim chegaremos a ser como o fermento na massa... ― e por aí foram os padres se convertendo e virando agitadores sindicais ― "Sim, nos dirão, compreenda: era necessário assimilar completamente o ambiente, não chocar, não dar a impressão de que se queria evangelizar ou impor uma verdade." ― Que erro! Estes indivíduos que não crêem, têm sede de verdade, têm fome do pão da verdade que estes sacerdotes extraviados não querem repartir com eles.

É também este falso pensamento que foi sugerido aos missionários: inicialmente não falem de Jesus Cristo a estes pobres indígenas que morrem de fome! Dai primeiro de comer, depois ferramentas, depois ensinai a trabalhar, o alfabeto, a higiene... e por que não? o controle da natalidade! Mas não falem de Deus, pois eles têm o estômago vazio! Eu porém, diria: precisamente porque são pobres e desprovidos de bens terrenos eles são extraordinariamente acessíveis ao Reino dos Céus, para estes "procurai primeiro o Reino dos Céus", procurai ao Deus que os ama e sofreu por eles, para que eles participem por suas misérias, de Seu sofrimento Redentor. 

Se ao contrário, vocês pretendem se pôr em seu nível, fa-los-ão gritar contra a injustiça e acender neles o ódio. Mas se levam Deus a eles. os levantarão, os elevarão, eles serão verdadeiramente enriquecidos.

  


Reconciliar-se com os Princípios de 1789

Em política, os católicos liberais vêem verdades cristãs nos princípios da Revolução de 1789, sem dúvida um pouco desajustados; porém uma vez purificados, os ideais modernos são plenamente assimiláveis pela Igreja: liberdade, igualdade, fraternidade, democracia (ideológica) e pluralismo. Erro que Pio IX condena no Syllabus: "O Pontífice Romano pode e deve se reconciliar e transigir com o progresso, o liberalismo e a civilização moderna." (prop. conden. N° 80, Dz. 1780)  

"O que vocês querem? declara o católico liberal, não se pode ir sempre contra as idéias de seu tempo, remar continuamente contra a corrente, parecer retrógrado ou reacionário". Já não se quer mais o antagonismo entre a Igreja e o espírito liberal laico, sem Deus. O que se quer é reconciliar o irreconciliável: a Igreja e a Revolução. Nosso Senhor Jesus Cristo e o príncipe deste mundo.

Não se pode imaginar empreendimento mais ímpio e mais diluente do espírito cristão, do bom combate pela fé, do espírito de luta, ou seja, do zelo em conquistar o mundo para Jesus Cristo."



Dom Marcel Lefebvre

Fonte: (Sim, Sim, Não, Não, edição em português, Nº 88, julho 2000.)






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[6] Dictionaire de Théol. Cat., T-9. col. 509.

[7] Jacques Marteaux. Les Catholiques dans I'inquiétude.



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