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sexta-feira, 19 de maio de 2017

QUEM SÃO OS MAIORES INIMIGOS DO CRISTIANISMO?








"Já meditei ontem em que é que ele consistia e compreendi bem a sua nocividade.

Um motivo ainda − e dos mais graves − desta nocividade é que o espírito do Mundo insinua-se sem se dar por isso.

Não são falhas de verdade estas palavras de quem prudentemente observou a invasão de costumes mundanos em pessoas que se julgam cristãs.

A maior parte das pessoas piedosas não julgam o espírito do Mundo tão mau como ele é; não compreendem a sua universalidade, a sua sutileza, o seu poder de infiltração em quantidade bastante para despojar do seu mérito o bem que fazemos, a sua particular habilidade em dominar as pessoas que se julgam inacessíveis ao seu alcance.

O grande mal do Mundo está nos homens se persuadirem que ele não é tão mau como o pintam... Esta persuasão é que é o seu triunfo. Quem o não julga perigoso é já sua vítima.


Quando Pregadores ou Moralistas creem oportuno desmascarar os perigos da mundanidade, levantam-se geralmente os mundanos a protestar contra tal exagero: 'Invenções quiméricas de gente aborrecida, julgam eles. Que inconveniente haverá em eu ter na igreja um genuflexório chique de pelúcia ou de veludo, em trabalhar para os pobres em... cortar um pouco a casaca ao vizinho, em seguir a Moda, em não me privar de nenhum prazer legítimo, em querer estar ao corrente do último romance, da última película, da última peça de teatro... Se se vai a cortar por tudo, acabaremos por já não poder viver'.

Muito bem! É exatamente assim. E tal é de fato o espírito do Mundo.

Nenhum perigo? De fato; menos precisamente o de o espírito do Evangelho se tornar antipático.

E é pouco? E com tais ideias como é que se vão formar os filhos para austeridades generosas, para o ideal do apostolado? Como constituir um lar perfeitamente cristão?

O grande mal de muitos cristãos não é o pecado − ao menos falando em geral − mas o entibiamento do espírito de Jesus Cristo, a arte de esquecer a Cruz, o desejo, implícito pelo menos, de não se imporem nenhuma mortificação, de darem a parte menos avantajada às realidades invisíveis.

Quanto menos exigentes nos mostramos em matéria de espírito cristão e de vida cristã, menos cristãos nos tornamos, e insensivelmente chegaremos a uma extenuação quase completa da nossa religiosidade. Fica ainda a moldura, fica a rotina, fica a fachada. E nada mais. A Religião foi esvaziada da sua substância, o Evangelho foi dulcificado, as Bem-aventuranças esquecidas.

E ao que fica pode-se ainda chamar Cristianismo? Não é esse o grande escândalo? Por que é que os incrédulos não abraçam em massa a Fé de Jesus Cristo? É tão belo o Evangelho; todos deviam ser atraídos para ele! Ai! Entre o Evangelho e os olhos dos incrédulos há essas silhuetas sem graças de cristãos de descorado Cristianismo. É atraente uma tal Religião? Ah! Não, mil vezes não! Se foi uma doutrina e uma prática como essa a que Cristo nos veio trazer, muito obrigado, não me satisfaz! Assim raciocinam os que não compartilham a nossa Fé.

Os maiores inimigos do Cristianismo são os maus cristãos.

Que espécie de cristão sou eu?

Que impressão devo produzir no meio em que vivo?

Que pensam de mim os que me rodeiam, no meu lar, na oficina, no armazém, na fábrica? Discípulo de Cristo? Ou quê?

Com Deus não se brinca, diz a Sagrada Escritura. E vamos julgar agora que Deus se contenta com um Cristianismo só de fachada? Não, mil vezes não.

Os verdadeiros fiéis são os fiéis em espírito e verdade. Ocultar-se, quem não é cristão, sob as aparências de uma vida pseudo-cristã, isso pode enganar os homens: Deus não se engana.

Com que é que se parece o meu Cristianismo? Vida, ou, simples fachada? Rótulo, ou, verdadeira alma? Convenção, ou, crença sincera, coerente, integral, da qual não resultam só atitudes postiças, mas uma prática perseverante, substanciosa, que vivifique a existência toda, dinâmica, avassaladora?

Meu Deus, a vossa Religião é vida. Fazei que eu viva!




(R. Pe. Raul Plus, S.J., "Cristo no Lar", Liv. II, c, p. 207)



 
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