Vamos lá, livremente e sem tardança, que nos soam aos ouvidos, desta vez pronunciada por duas vozes diferentes.
Uma destas vozes, voz tumultuosa e apaixonada, vem de baixo: “ Vinde, diz, que nem sempre me são suficientes armadilhas as riquezas e as honras; mas vós tende encantos secretos que, ajuntando-se aos meus, farão com que se rompam as nossas redes com o peso da abundância”.
Longo tempo há que se dirigiu esta voz à mulher; longo tempo há que a fez ocasião de queda e ruína para o homem, longo tempo há que com verdade pôde responder o homem no juízo de Deus: Senhor, a mulher foi que me apresentou o fruto de que comi!
Mas espere e escutai ainda, que outra voz pronunciou estas palavras, e esta vem do alto: Passando Jesus pela praia do mar... onde estavam lançando suas redes... e lhes disse: segue-me e far-vos-ei pescadores de homens.
Ah! Estas simples palavras são aqui uma apologia da providência e sabedoria divina. Não sem um fim de elevada misericórdia fomos nós favorecidas com estes dotes, com estes encantos secretos que o mundo celebra, e de que desgraçadamente abusa com tanta frequência. É verdade que desde a queda do homem, por via de nós, e desde a nossa queda por via de Satanás, facilmente inclinadas a se desviar do seu legítimo objeto, sem custo os empregamos em pescar homens que atamos à nossa vaidade e das nossas paixões criminosas; nem por isso mudou o seu verdadeiro destino. Se são engodos estes dotes, é para atrairmos os peixes a quem assusta o remo divino, e para, quando caíres na rede do dono da barca, deixarmos a este todo o lucro e toda a honra da pesca.
Mães pescai-os à primeira hora por meio de uma educação sólida e cristã; irmãs, ou esposas, pescai-os na juventude ou na idade viril à força de dedicação, firmeza, prudência e doçura; e finalmente filhas, pescai-os à terceira hora, pois vai despontar a alva, e até agora se passou a noite sem pescar nada.
Encaro a causa das mulheres, como cristã, e não como romântica entusiasta. Sem embargo, devo confessar que paguei tributo à preocupação do século, e esses palavrões que empregavam escritores religiosos, e até piedosos oradores, para exaltar a mulher e sua missão, me soavam aos ouvidos como a mais doce harmonia. Porém depois sucedeu-me ler o Evangelho, e nele vi, porque neles se encontram todas as verdades, que a missão da mulher é grande e até sublime, para me servir do termo consagrado, não só pelo seu objeto, senão também pelos resultados que dele espera o cristianismo; mas lá vi também estas palavras: Ai de vós que tende a vossa consolação neste mundo! Ai de vós quando vos aplaudirem os homens! (São Lucas). E deduzi daqui que esta missão, por mais sublime que seja, não pode ser uma missão ostentosa. E lendo esta outra sentença: Aquele que se eleva será humilhado (São Lucas), pensei que, para realizar a mulher a grande obra comedida à sua fé, não devia começar por erguer-se por um pedestal soberbo, senão por humilhar-se.
Aos que querem falar-lhe, pois, de glória e de triunfo, deve ela responder com Jesus Cristo: Retira-te de mim, Satanás! És para mim objeto de escândalo, porque não gosta do que é de Deus, senão do que é do homem (São Mateus), e eu não quero a glória que vem do homem (São João).
Ah! Não há dúvida que a mulher pode conservar e apreciar a dignidade que lhe devolveu o cristianismo; pois não seria real nem completa a sua reabilitação se, a não soubesse compreender. Não há dúvida que deve permanecer no elevado posto que lhe confiou a religião; pois não pode ignorar que hoje lhe entregou a sociedade, por assim dizer, a alma nas mãos entregando-lhe a sua fé. Não há dúvida até que lhe é lícito orgulhar-se dessa missão de confiança.
Um homem decorado com o nome de sábio dava graças aos seus deuses por o terem feito nascer homem e não mulher: hoje é a mulher que deve bendizer ao seu Deus por a haver criado como é. Livre-se de invejar a sorte do homem, que Deus a castigaria como ingrata! Colocada sob o fogo do inimigo, sentinela das obras avançadas da religião, cumpre conservar essa posição honrosa, embora arriscada. Deve permanecer nela por meio da sua adesão sincera a esta religião, do fervor da sua fé, da constância do seu zelo e da pureza da sua vida. Atualmente só a mulher pode, de fato, manter-se nesse ponto de honra; só ela pode também preparar a sua derrota , e esta derrota, destruindo a obra de Deus, viria a ser uma queda terrível, que a poria ainda abaixo do nível da sua antiga degradação; e então mais valeria mil vezes para ela nunca ter subido.
Começou sua ressurreição moral quando, revelando-se Deus à terra pela segunda vez, fez desaparecer todos os deuses; começou no dia em que veio dar ao mundo a salvação e a esperança uma mulher (Maria), assim como outra lhe legara o desespero e a morte (Eva).
Não obstantes, apesar das mudanças ocorridas nas aplicações da inteligência da mulher, não é o entendimento como o do homem. Porém disse-se: a mulher pensa com o coração e por esse modo se indeniza amplamente da superioridade que o homem reivindica a outros respeitos.
As mulheres receberam em sentimento a sua parte de razão; isto é o que faz mais com que saibam, sem as terem aprendido, tantas coisas que os homens aprendem sem as saber e o que lhes dá um juízo naturalmente mais reto posto que menos fundado, um gosto mais seguro posto que mais vivo, uma inteligência e modos menos estudados e por isso mais amáveis (De Bonald, Legislação primitiva, da educação na sociedade).
Não se deve, pois, pensar que com uma mudança e fácil nos sistemas de educação se conseguiria inverter os papeis. Tampouco se deve crer que o homem, num momento de cansaço, possa vender ao entendimento da mulher o seu direito de primogenitura (Joseph de Maistre, Noites de S. Petesburgo).
Demais, esta opinião em nada altera a questão; e, seja qual for a causa, sempre são os mesmos a posição e os deveres da mulher. Pois é necessário que não esqueça que foi o próprio Deus que traçou essa linha de proceder; que foi Deus quem pôs à inteligência essa barreira subsistente.
As mulheres formam os costumes; mas quando os querem tornar puros e quando resolveram operar uma regeneração religiosa, individual ou social conseguem-no doutro modo que por meio de controvérsias ou discursos. Não há dúvida que a mulher não deve parecer alheia às questões sérias que se ventilam ante ela, senão que, logo que há luta, pode apresentar-se utilmente como pacificador e não como campeão, aí como em toda a parte, não se desgosta nunca e nunca desgostando a ninguém.
Existe entre a religião e a mulher uma solidariedade que só pode destruir-se em detrimento d’uma ou da outra.
A mulher deve à religião a sua posição e felicidade, e frequentemente por meio da mulher é que a religião obtém suas mais belas conquistas.
A religião é para a mulher o que a alma é para o corpo, pois que lhe dá vida intelectual, o movimento que a leva ao bem , o sentimento de sua dignidade e os meios de a conservar; e lhe comunica essa animação sem a qual nunca é mais que um cadáver livido e repugnante o corpo mais perfeito.
A mulher privada desse facho celestial, cai na obscuridade da morte, e da morte no abismo. Converte-se num gélido cadáver, e, vendo-a sem vida e sem honra, volve o transeunte a cabeça com desgosto, oprimido o coração por esse indizível terror que só inspira morte.
Mãos à obra, mulheres cristãs! Formai gerações novas e preparai uma sociedade religiosa sobre as ruínas do mundo céptico. No fim dos tempos deve Deus criar novos céus e uma nova terra, e Jesus Cristo nos convida para uma obra semelhante.
Mãos a obra, mães cristãs para preparardes estes terrenos virgens que se vos confiam, para semeardes neles, o bom grão e arrancardes a zizania; entre vós, donzelas, para vos aparelhardes para entrar na lide e para resistir aos choques violentos que vos estão reservados.
M.me M. de Marcey, in "A mulher cristã desde o nascimento até a morte estudos e conselhos".
Visto em: http://romadesempre.blogspot.com.br/2014/01/a-mulher-crista-na-sociedade.html.
Imagens: web
Uma destas vozes, voz tumultuosa e apaixonada, vem de baixo: “ Vinde, diz, que nem sempre me são suficientes armadilhas as riquezas e as honras; mas vós tende encantos secretos que, ajuntando-se aos meus, farão com que se rompam as nossas redes com o peso da abundância”.
Longo tempo há que se dirigiu esta voz à mulher; longo tempo há que a fez ocasião de queda e ruína para o homem, longo tempo há que com verdade pôde responder o homem no juízo de Deus: Senhor, a mulher foi que me apresentou o fruto de que comi!
Mas espere e escutai ainda, que outra voz pronunciou estas palavras, e esta vem do alto: Passando Jesus pela praia do mar... onde estavam lançando suas redes... e lhes disse: segue-me e far-vos-ei pescadores de homens.
Ah! Estas simples palavras são aqui uma apologia da providência e sabedoria divina. Não sem um fim de elevada misericórdia fomos nós favorecidas com estes dotes, com estes encantos secretos que o mundo celebra, e de que desgraçadamente abusa com tanta frequência. É verdade que desde a queda do homem, por via de nós, e desde a nossa queda por via de Satanás, facilmente inclinadas a se desviar do seu legítimo objeto, sem custo os empregamos em pescar homens que atamos à nossa vaidade e das nossas paixões criminosas; nem por isso mudou o seu verdadeiro destino. Se são engodos estes dotes, é para atrairmos os peixes a quem assusta o remo divino, e para, quando caíres na rede do dono da barca, deixarmos a este todo o lucro e toda a honra da pesca.
Mães pescai-os à primeira hora por meio de uma educação sólida e cristã; irmãs, ou esposas, pescai-os na juventude ou na idade viril à força de dedicação, firmeza, prudência e doçura; e finalmente filhas, pescai-os à terceira hora, pois vai despontar a alva, e até agora se passou a noite sem pescar nada.
Encaro a causa das mulheres, como cristã, e não como romântica entusiasta. Sem embargo, devo confessar que paguei tributo à preocupação do século, e esses palavrões que empregavam escritores religiosos, e até piedosos oradores, para exaltar a mulher e sua missão, me soavam aos ouvidos como a mais doce harmonia. Porém depois sucedeu-me ler o Evangelho, e nele vi, porque neles se encontram todas as verdades, que a missão da mulher é grande e até sublime, para me servir do termo consagrado, não só pelo seu objeto, senão também pelos resultados que dele espera o cristianismo; mas lá vi também estas palavras: Ai de vós que tende a vossa consolação neste mundo! Ai de vós quando vos aplaudirem os homens! (São Lucas). E deduzi daqui que esta missão, por mais sublime que seja, não pode ser uma missão ostentosa. E lendo esta outra sentença: Aquele que se eleva será humilhado (São Lucas), pensei que, para realizar a mulher a grande obra comedida à sua fé, não devia começar por erguer-se por um pedestal soberbo, senão por humilhar-se.
Aos que querem falar-lhe, pois, de glória e de triunfo, deve ela responder com Jesus Cristo: Retira-te de mim, Satanás! És para mim objeto de escândalo, porque não gosta do que é de Deus, senão do que é do homem (São Mateus), e eu não quero a glória que vem do homem (São João).
Ah! Não há dúvida que a mulher pode conservar e apreciar a dignidade que lhe devolveu o cristianismo; pois não seria real nem completa a sua reabilitação se, a não soubesse compreender. Não há dúvida que deve permanecer no elevado posto que lhe confiou a religião; pois não pode ignorar que hoje lhe entregou a sociedade, por assim dizer, a alma nas mãos entregando-lhe a sua fé. Não há dúvida até que lhe é lícito orgulhar-se dessa missão de confiança.
Um homem decorado com o nome de sábio dava graças aos seus deuses por o terem feito nascer homem e não mulher: hoje é a mulher que deve bendizer ao seu Deus por a haver criado como é. Livre-se de invejar a sorte do homem, que Deus a castigaria como ingrata! Colocada sob o fogo do inimigo, sentinela das obras avançadas da religião, cumpre conservar essa posição honrosa, embora arriscada. Deve permanecer nela por meio da sua adesão sincera a esta religião, do fervor da sua fé, da constância do seu zelo e da pureza da sua vida. Atualmente só a mulher pode, de fato, manter-se nesse ponto de honra; só ela pode também preparar a sua derrota , e esta derrota, destruindo a obra de Deus, viria a ser uma queda terrível, que a poria ainda abaixo do nível da sua antiga degradação; e então mais valeria mil vezes para ela nunca ter subido.
Começou sua ressurreição moral quando, revelando-se Deus à terra pela segunda vez, fez desaparecer todos os deuses; começou no dia em que veio dar ao mundo a salvação e a esperança uma mulher (Maria), assim como outra lhe legara o desespero e a morte (Eva).
Não obstantes, apesar das mudanças ocorridas nas aplicações da inteligência da mulher, não é o entendimento como o do homem. Porém disse-se: a mulher pensa com o coração e por esse modo se indeniza amplamente da superioridade que o homem reivindica a outros respeitos.
As mulheres receberam em sentimento a sua parte de razão; isto é o que faz mais com que saibam, sem as terem aprendido, tantas coisas que os homens aprendem sem as saber e o que lhes dá um juízo naturalmente mais reto posto que menos fundado, um gosto mais seguro posto que mais vivo, uma inteligência e modos menos estudados e por isso mais amáveis (De Bonald, Legislação primitiva, da educação na sociedade).
Não se deve, pois, pensar que com uma mudança e fácil nos sistemas de educação se conseguiria inverter os papeis. Tampouco se deve crer que o homem, num momento de cansaço, possa vender ao entendimento da mulher o seu direito de primogenitura (Joseph de Maistre, Noites de S. Petesburgo).
Demais, esta opinião em nada altera a questão; e, seja qual for a causa, sempre são os mesmos a posição e os deveres da mulher. Pois é necessário que não esqueça que foi o próprio Deus que traçou essa linha de proceder; que foi Deus quem pôs à inteligência essa barreira subsistente.
As mulheres formam os costumes; mas quando os querem tornar puros e quando resolveram operar uma regeneração religiosa, individual ou social conseguem-no doutro modo que por meio de controvérsias ou discursos. Não há dúvida que a mulher não deve parecer alheia às questões sérias que se ventilam ante ela, senão que, logo que há luta, pode apresentar-se utilmente como pacificador e não como campeão, aí como em toda a parte, não se desgosta nunca e nunca desgostando a ninguém.
Existe entre a religião e a mulher uma solidariedade que só pode destruir-se em detrimento d’uma ou da outra.
A mulher deve à religião a sua posição e felicidade, e frequentemente por meio da mulher é que a religião obtém suas mais belas conquistas.
A religião é para a mulher o que a alma é para o corpo, pois que lhe dá vida intelectual, o movimento que a leva ao bem , o sentimento de sua dignidade e os meios de a conservar; e lhe comunica essa animação sem a qual nunca é mais que um cadáver livido e repugnante o corpo mais perfeito.
A mulher privada desse facho celestial, cai na obscuridade da morte, e da morte no abismo. Converte-se num gélido cadáver, e, vendo-a sem vida e sem honra, volve o transeunte a cabeça com desgosto, oprimido o coração por esse indizível terror que só inspira morte.
Mãos à obra, mulheres cristãs! Formai gerações novas e preparai uma sociedade religiosa sobre as ruínas do mundo céptico. No fim dos tempos deve Deus criar novos céus e uma nova terra, e Jesus Cristo nos convida para uma obra semelhante.
Mãos a obra, mães cristãs para preparardes estes terrenos virgens que se vos confiam, para semeardes neles, o bom grão e arrancardes a zizania; entre vós, donzelas, para vos aparelhardes para entrar na lide e para resistir aos choques violentos que vos estão reservados.
M.me M. de Marcey, in "A mulher cristã desde o nascimento até a morte estudos e conselhos".
Família Lefebvre |
Visto em: http://romadesempre.blogspot.com.br/2014/01/a-mulher-crista-na-sociedade.html.
Imagens: web
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