EM HONRA DA MODÉSTIA E DA PUREZA DA SANTÍSSIMA VIRGEM
Deve-se notar também que a modéstia dos olhos é necessária não só para nosso próprio bem, como para a edificação do próximo. Só Deus vê o nosso coração; os homens veem apenas nossas obras externas e ou se edificam ou se escandalizam com elas. "Pelo rosto se conhece o homem", diz a Escritura (Ecli 19, 26), isto é, pelo exterior se depreende o que é o homem interiormente. Todo cristão, por isso, deve ser o que era São João Batista, conforme as palavras do Salvador (Jo 5, 35): "Uma lâmpada que arde e ilumina". (Cf. Tratado - Parte III)
TRATADO DA CASTIDADE
Bem-aventurados os puros.
(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO)
§ I. EXCELÊNCIA DA CASTIDADE
Ninguém melhor que o Espírito Santo saberá apreciar o valor da castidade. Ora, Ele diz: "Tudo o que se estima não pode ser comparado com uma alma continente"
(Ecli 26, 20), isto é, todas as riquezas da terra, todas as honras,
todas as dignidades, não lhe são comparáveis. Santo Efrém chama a
castidade de "a vida do espírito"; São Pedro Damião, "a rainha das virtudes";
e São Cipriano diz que, por meio dela, se alcançam os triunfos mais
esplêndidos. Quem supera o vício contrário à castidade, facilmente
triunfará de todos os mais; quem, pelo contrário, se deixa dominar
pela impureza, facilmente cairá em muitos outro vícios e far-se-á réu
de ódio, injustiça, sacrilégio etc.
A castidade faz do homem um anjo. "Ó castidade, exclama Santo Efrém (De cast.), tu fazes o homem semelhante aos anjos". Essa comparação é muito acertada, pois os anjos vivem isentos de todos os deleites carnais; eles são puros por natureza; as almas castas, por virtude. "Pelo mérito desta virtude, diz Cassiano (De Coen. Int., 1. 6, c. 6), assemelham-se os homens aos anjos"; e São Bernardo (De mor. et off., ep., c. 3): "O
homem casto difere do anjo não em razão da virtude, mas da
bem-aventurança; se a castidade do anjo é mais ditosa, a do homem é
mais intrépida". "A castidade torna o homem semelhante ao próprio Deus, que é um puro espírito", afirma São Basílio (De ver. virg.).
O
Verbo Eterno, vindo a este mundo, escolheu para Sua Mãe uma Virgem,
para pai adotivo um virgem, para precursor um virgem, e a São João
Evangelista amou com predileção porque era virgem, e, por isso,
confiou-lhe Sua santa Mãe, da mesma forma como entrega ao sacerdote,
por causa de sua castidade, a santa Igreja e Sua própria Pessoa.
Com toda a razão, pois, exclama o grande doutor da Igreja, Santo Atanásio (De virg.): 'Ó santa pureza, és o templo do Espírito Santo, a vida dos Anjos e a coroa dos Santos!".
Grande, portanto, é a excelência da castidade; mas também terrível é a guerra que a carne nos declara para no-la roubar.
Nossa carne é a arma mais poderosa que possui o demônio para nos
escravizar; é, por isso, coisa muito rara sair-se ileso ou mesmo
vencedor deste combate. Santo Agostinho diz (Serm. 293): "O combate pela castidade é o mais renhido de todos: ele repete-se cotidianamente, e a vitória é rara". "Quantos infelizes que passaram anos na solidão, exclama São Lourenço Justiniano, em
orações, jejuns e mortificações, não se deixaram levar, finalmente,
pela concupiscência da carne, abandonaram a vida devota da solidão e
perderam, com a castidade, o próprio Deus!"
Por isso, todos os que desejam conservar a virtude da castidade devem ter suma cautela: "É impossível que te conserves casto, diz São Carlos Borromeu, se não vigiares continuamente sobre ti mesmo, pois negligência traz consigo mui facilmente a perda da castidade".
(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Escola da Perfeição Cristã, compilação de textos do Santo Doutor pelo padre Saint-Omer, CSSR, tradução do padre José Lopes, CSSR, IV Edição, Editora Vozes, Petrópolis: 1955, páginas 186-204 e 338343).
Continua amanhã...
+
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog é eminentemente de caráter religioso e comentários que ofendam os princípios da fé católica não serão admitidos. Ao comentar, tenha ciência de que os editores se garantem o direito de censurar.