Nota do blog: Evidentemente São João da Cruz escreveu o texto a seguir para religiosos de clausura, porém sempre é possível aproveitar seus ensinamentos, adaptando-os para a vida cotidiana dos leigos, utilizando o bom senso e a prudência.
Nos chamados "Pequenos Tratados Espirituais", de São João da Cruz, Reformador do Carmelo, encontramos as "Cautelas" que ele ensinava a seus discípulos para serem usadas contra "os três inimigos da alma", que são, como nos ensina o Catecismo: o mundo, o demônio e a carne.
"Para conseguires libertar-te perfeitamente do dano que o mundo te pode causar, hás de usar de 3 cautelas:
Primeira cautela
- A primeira cautela é que a respeito de todas as pessoas: tenhas igual amor e igual esquecimento, quer sejam parentes, quer não o sejam, desprendendo o coração tanto de uns como de outros; e até, de certo modo, mais dos parentes pelo receio de que a carne e o sangue venham a exacerbar-se com o amor natural que costuma existir entre os parentes e que convém mortificar sempre para atingir a perfeição espiritual.
- Considera a todos como estranhos e desta maneira cumprirás melhor o teu dever para com eles do que pondo neles a afeição que deves a Deus. Não ames mais uma pessoa do que a outra, porque errarás, pois é digno de maior amor aquele que Deus mais ama e tu ignoras a quem Ele ama mais. Esquecendo-os, porém, igualmente a todos como te convém fazer para o santo recolhimento, livrar-te-ás do erro do mais e do menos com relação a eles.
Nada penses em relação a eles, nem bem, nem mal. Evita-os, o quanto te for possível. E se fores remisso em observar estes pontos, não saberás ser religioso, nem poderás chegar ao santo recolhimento, nem livrar-se das imperfeições que isso traz consigo. E, se nesse particular quiseres permitir-te alguma liberdade, com um ou com outro, enganar-te-á o demônio ou tu a ti mesmo.
Segunda Cautela
- A segunda cautela contra o mundo se refere aos bens temporais. Para te livrares completamente dos danos desta espécie e refreares a demasia do apetite, faz-se mister aborreceres toda forma de propriedade. Não deves ter cuidado algum a esse respeito, nem de comida, nem de vestido, nem de outras coisas criadas, nem do dia de amanhã, empregando essa solicitude em outra coisa mais elevada, que é buscar o reino de Deus, ou seja, em não faltar a Deus, porque o demais, como disse Sua Majestade (Mt 6,33), ser-nos á dado em acréscimo, pois não há de esquecer de ti aquele que cuida dos animais. Com isso adquirirás silêncio e paz nos sentidos.
Terceira cautela
- A terceira cautela é muito necessária para saberes te guardar, no convento, de todos os danos a respeito dos religiosos, pois, por não haverem observado, muitos não apenas perderam a paz e o bem da sua alma, como vieram e vêm, ordinariamente, a cair em muitos males e pecados. Consiste essa cautela em evitares com todo o cuidado o pensamento e mais ainda falar sobre o que se passa na comunidade; o que acontece ou aconteceu com qualquer religioso em particular; não te ocupes da sua maneira de ser, do seu trato, das suas coisas, por mais graves que sejam. Nem a pretexto de zelo, de remédio a dar, digas coisa alguma, a não ser a quem de direito convém dizê-lo a seu tempo. Não te escandalizes nem jamais te admires de coisas que vejas ou percebas, procurando guardar tua alma no esquecimento de tudo isso. Porque se quiseres reparar em alguma coisa, mesmo que vivas entre anjos, muitas coisas não te parecerão bem por não compreenderes a substância delas.
- Sirva-te de exemplo a mulher de Ló, que por se ter perturbado com a perdição dos sodomitas e voltado a cabeça para observar o que se passava, a castigou o Senhor transformando-a em estátua de sal. É para que entendas que, ainda no caso de viveres entre demônios, Deus quer que vivas de tal modo no meio deles que não desvies a cabeça do pensamento às suas coisas, mas as deixe totalmente, procurando conservar a alma pura e inteira em Deus, sem que qualquer pensamento a respeito disso ou daquilo, te possa estorvar.
E para isso tem o fato comprovado que nos conventos e comunidades nunca há de faltar empecilhos, pois nunca faltam demônios que procuram derrubar os santos, e Deus assim o permite para os exercitar e provar.
E, se não tomares precaução, segundo ficou dito, fazendo como se não estivesses em casa, não poderás ser religioso, por mais que se esforces, nem chegar à santa desnudez e recolhimento, nem libertar-te dos danos que isso acarreta. Porque, não fazendo assim, por melhor intenção e zelo de que estejas animado, numa ou noutra coisa te colherá o demônio, e bastante envolvido já te encontras quando dá ensejo a que tua alma se distraia em qualquer dessas coisas. Recorda-te do que disse o Apóstolo São Tiago (1,26): Se alguém julga que é religioso, não refreando a língua, é vã a sua religião. E isto estende-se não menos da língua interior que da exterior."
São João da Cruz
Fonte: http://www.carmelitasmensageiras.com.br/index.php/2013-05-03-00-58-34/especiais/santa-teresa-de-jesus?layout=edit&id=440
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