RESPEITO
"Os valores éticos são o que há de mais elevado entre todos os valores naturais. Acima da genialidade, da sensatez, da vida próspera, acima da formosura da natureza e da arte, acima da estrutura perfeita e da força de um Estado, estão a bondade, a pureza, a veracidade e a humildade do homem.
Um ato de autêntico perdão, uma renúncia magnânima, um amor ardentemente abnegado encerram um significado e magnitude, uma transcendência e perenidade muito maiores do que todos os valores da nossa civilização. (...)
Um homem é incapaz de ser moralmente bom se estive cego para o valor moral das outras pessoas, se não distinguir o valor inerente à vontade do não-valor inerente ao erro, se não entender o valor que há numa vida humana ou o não-valor de uma injustiça.
Se alguém se interessa apenas por saber se determinada coisa o satisfaz ou não, se lhe é agradável, em vez de se interrogar sobre o seu significado, a sua beleza, a sua bondade, ou sobre o que vem a ser em si mesma; numa palavra, se não se interessa por saber se essa coisa é valiosa, é-lhe impossível ser moralmente bom.
A alma de todo o comportamento eticamente bom reside na dedicação àquilo que objetivamente é valioso, no interesse por uma ação na medida em que encerra valores morais. (...)
O respeito é aquela atitude fundamental que, por assim dizer, se pode apontar como mãe de toda a virtude moral, porque é ela que, antes de mais nada, permite abeirar-se do mundo e abrir os olhos para os valores que encerra. (...)
O homem desrespeitoso, atrevido, é incapaz de toda e qualquer dedicação e subordinação. Ora se torna escravo da soberba, daquela contração do eu que o encerra em si mesmo e o mergulha em cegueira, levando-o a perguntar constantemente: "Terá subido de ponto o meu prestígio, terá aumentado o meu poder?"; ora se faz escravo da avidez com que reduz o mundo inteiro a uma mera ocasião de prazer.
Por isso não consegue criar no seu íntimo aquele silêncio, aquela atitude receptiva que permite compreender o que há de peculiar e valioso em cada situação e em cada homem.
Trata tudo com a impertinência e a indelicadeza de quem só repara em si mesmo e só se escuta a si mesmo, sem cuidar do mais que existe. Não sabe manter distância alguma em relação ao mundo."
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Excerto do livro "Atitudes éticas fundamentais" - Dietrich Von Hildebrand
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