O MODO DE GOVERNAR A LÍNGUA
"A
língua do homem tem grande necessidade de ser controlada e refreada, porque
somos muito inclinados a deixá-la correr solta e discorrer sobre o que mais
agrada aos nossos sentidos. O falar demais geralmente tem sua raiz na soberba,
com a qual, convencidos de saber muito e da superioridade de nossas opiniões,
procuramos impô-las aos outros, querendo sempre ter a última palavra, como se
fôssemos mestres de quem todos tivessem que aprender.
Não
se pode dizer em poucas palavras os danos causados pelo seu excesso. A
loquacidade é mãe da preguiça, sinal de ignorância e imaturidade, porta da
distração, provedora da mentira e inibidora da devoção e do fervor. O muito
falar alimenta as paixões viciosas, o que por sua vez anima cada vez mais a
língua a continuar em sua tagarelice indiscreta. Não te alongues em grandes
discursos com quem te ouve de má vontade, para não o cansar, e nem tampouco com
quem te ouve com prazer, para não exceder os limites da modéstia.
Evita
falar com muita ênfase e em voz muito alta, pois ambas as coisas são indícios
de presunção e vaidade. Não fales nunca de ti mesma, nem das tuas coisas, nem
dos teus, a não ser por necessidade e nesse caso, com a maior brevidade
possível. Quanto te parecer que alguém fala demasiado de si próprio não o julgues
desfavoravelmente, mas também não o imites, ainda que ele fale com humildade e
para acusar-se. Do teu próximo e do que lhe diz respeito, fala o mínimo
possível, e sempre favoravelmente, quando a ocasião se apresentar.
De
Deus, deves falar com gosto, especialmente da sua bondade e amor, mas sempre
receando a possibilidade de te equivocares, pelo que deves preferir ouvir com
atenção o que os outros dizem, conservando suas palavras no fundo do teu
coração. De outros temas, deixa que só o som repercuta em teus ouvidos,
enquanto elevas a mente ao Senhor. E quando te vês obrigada a escutar o que
falam para poderes responder, nem por isso deixes de dirigir um pensamento ao
Céu, onde habita Deus, admirando sua grandeza que não despreza a tua pequenez
(Lc 1,48).
Examina
bem as coisas que o coração te dita, antes que cheguem à língua, e verás que é
preferível que algumas delas não saiam da boca. Mesmo entre aquelas que te
parecem dever se pronunciadas, seria melhor que muitas delas fossem deixadas no
silêncio do coração, como perceberás, se nelas refletires depois de passado o
momento de dizê-las.
O
silêncio é uma grande fortaleza no combate espiritual e uma garantia segura de
vitória; é amigo de quem desconfia de si mesmo e confia em Deus; é guardião da
autêntica oração e uma magnífica ajuda no exercício das virtudes.
Para
te acostumares a ficar calada, considera os danos e perigos da loquacidade e as
grandes vantagens do silêncio. Todo amor por esta virtude, e, para te
habituares a ela, exercita-te por algum tempo em calar até mesmo as coisas que
faria bem em dizer, desde que isso não cause prejuízo a ti ou a outros. Foge
das conversações, para que não tenhas por companheiros os homens, mas sim os
anjos, os santos e o próprio Deus.
Finalmente, lembra-te do constante combate que tens de travar, pois a consideração do quanto te falta para alcançar a perfeição servirá de motivação para evitares perder tempo com distrações supérfluas.
Finalmente, lembra-te do constante combate que tens de travar, pois a consideração do quanto te falta para alcançar a perfeição servirá de motivação para evitares perder tempo com distrações supérfluas.
Trecho
tirado do livro "O Combate Espiritual" de Lorenzo Scupoli.
Livro
lido por S. Francisco de Sales (Século XV)
Enviado pela Srta. Gisele Maria
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