"(...) Aqueles que amam a Deus, vivem sempre satisfeitos, porque todo o seu prazer é cumprir a divina vontade, mesmo nas coisas que lhe são desagradáveis, tanto que as inquietações se mudam em deleites pelo pensamento de que, aceitando-as voluntariamente, agradam a seu amado Senhor.
"Tudo quanto acontecer ao homem justo, o não entristecerá" (Provérbios, XII, 21). E, com efeito, que maior felicidade pode o homem esperimentar, do que o cumprimento de seus desejos?
Então, quando se deseja o que Deus quer, tem cada um tudo quanto deseja, pois que (exceto o pecado) tudo quanto suceder no mundo é pela vontade de Deus.
As almas resignadas, diz Salviano, quando se sentem humilhadas, confessam a sua humilhação; quando são pobres, sofrem voluntariamente a sua pobreza; em uma palavra, resignam-se a tudo quanto lhes acontece, e por isso são sempre felizes durante a vida.
Se chega o calor, o frio, ou a chuva, aquele que se conforma à vontade do Senhor diz: "Eu desejo que haja calor, e frio, ou chuva, porque esta é a vontade de Deus."
Se a pobreza, a perseguição ou doença o afligem, ou a mesma morte, ele dirá: "eu desejo ser pobre, perseguido ou doente, porque esta é a vontade de Deus."
É esta a gloriosa liberdade que os filhos de Deus gozam, a qual vale mais do que todos os reinos e principados deste mundo: Esta é a sólida paz que os Santos desfrutam, que excede a toda a compreensão. E todos os prazeres sensuais, festas, banquetes, honras e mundanas gratificações são vaidade e caducidade, e, enquanto que fascinam e entretem por alguns momentos, afligem o espírito, onde só pode haver a verdadeira felicidade.
Aqui exclama Salomão, depois de ter esgotado o gozo das delícias do mundo: "Mas isto é também vaidade e vexação de espírito".
O louco, diz o Espírito Santo, muda como a lua, mas o homem justo continua em seu juízo, assim como o sol.
O insensato, isto é, o pecador, muda como a lua, hoje está no crescente, amanhã no minguante, hoje está alegre, amanhã triste, hoje meigo, amanhã furioso; e por que? Porque a sua felicidade depende da prosperidade e adversidade que ele pode encontrar, e então muda conforme as circunstâncias.
Mas o homem justo é como o sol, sempre igual na sua serenidade, sejam os sucessos quais forem; porque a sua felicidade está na conformidade com a vontade divina, e por esta conformidade goza uma inalterável paz.
"Paz na terra aos homens de boa vontade", disse o Anjo aos pastores (S. Lucas, II, 14) E quem são estes homens de boa vontade? São aqueles que estão unidos à divina vontade, a qual é sempre soberanamente boa e perfeita.
Excerto do livro "Tratado da Conformidade com a Vontade de Deus",
de Santo Afonso Maria de Ligório.
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