O exame de consciência,
longe de apartar-nos do pensamento de Deus, aponta-nos para ele. Deve-se inclusive pedir-lhe luz para
enxergar um pouco a alma como o próprio Deus a vê, para enxergar o dia ou a
semana que passaram como se os víssemos escritos no livro da vida, à maneira de
como os veremos no dia do Juízo Final.
Por isto temos de repassar cada noite, com
humildade e contrição, as faltas cometidas de pensamento, palavra, ação e
omissão.
No exame deve-se evitar
a minuciosa investigação das menores faltas, tomadas em sua materialidade, pois
semelhante esforço poderia fazer-nos
cair em escrúpulos e esquecer coisas mais importantes.
Trata-se menos de uma
completa enumeração das faltas veniais que da investigação e acusação sinceras
do princípio de onde geralmente procedem.
A alma não deve se deter
em demasia na consideração de si mesma, deixando de olhar para Deus. Pelo
contrário há de se perguntar, tendo os
olhos fitos em Deus:
·
Como julgará Deus este dia ou semana que agora
termina?
·
Foi este dia meu ou de Deus?
·
Busquei a ele ou a mim?
Desse
modo, sem turbação, a alma julgar-se-á desde um plano elevado, à luz dos
preceitos divinos, tal como se julgará no último dia. Mas, como diz Santa
Catarina de Sena, não separemos a
consideração de nossas faltas do pensamento da infinita misericórdia.
Olhemos nossa fragilidade e miséria ao lume da infinita bondade de Deus que nos
alevanta. O
exame, feito deste modo, longe de desalentar-nos, aumentará nossa confiança em
Deus.
Por contraste, a visão de nossos pecados nos esclarece
o valor da virtude. O que melhor nos revela o valor da justiça é a dor
que a injustiça produz. A imagem da injustiça que cometemos e o pesar de tê-la
cometido devem nos despertar a “fome e sede de justiça”. Por contraste, é
necessário:
·
que a fealdade da sensualidade nos revele a
beleza da pureza;
·
que a
desordem da ira e da inveja nos faça compreender o alto valor da mansidão e da
caridade;
·
que as aberrações da soberba nos ilustrem acerca
da elevada sabedoria da humildade.
Peçamos a Deus
inspirar-nos um santo aborrecimento
do pecado, que nos separa da divina bondade, da qual tantos benefícios
recebemos e esperamos para o porvir.
Esse santo ódio do
pecado não é, de certa forma, senão o outro lado do amor de Deus. É impossível amar
profundamente a verdade sem detestar a mentira, amar de coração ao bem, e o
soberano Bem que é Deus, sem que por sua vez detestemos o que nos separa de
Deus.
Excerto do livro "As três idades da
vida interior"
do padre Reginald Garrigou-Lagrange
(Grifos
nossos)
***
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