"A dor da alma, porém, deve ter dois companheiros para que a purifiquem
e aplaquem a Deus, a saber: o temor do
juízo divino e o ardor do inteiro
desejo, afim de que recuperes pelo temor um coração humilde, pelo desejo um
coração devoto e pela contrição um coração ilibado.
Teme,
repito, teme muito para que, embora de algum modo penitente, não desagrades
ainda a Deus; teme mais para que depois não recomeces a ofender a Deus; teme
muitíssimo, para que no fim não te afastes de Deus, carecendo sempre de luz,
ardendo sempre no fogo, jamais livre do verme. Somente uma vida de verdadeira
penitência e morte na graça da perseverança pode preservar-te desta
infelicidade.
Canta, pois,
com o profeta: "Transpassa com o teu temor a minha carne, porque temo os
meus juízos"
Arrepende-te e tem cuidado por causa dos pecados cometidos.
Arrepende-te, aconselho,
arrepende-te muito, porque por eles aniquilaste todo o bem que de Deus
recebeste;
Arrepende-te mais porque
ofendeste a Cristo que por ti nasceu e foi crucificado;
Arrepende-te muitíssimo
porque desprezaste a Deus, cuja majestade desonraste transgredindo as Suas
leis, cuja verdade negaste, cuja bondade afrontaste.
Pelo pecado desonraste,
desfiguraste e transtornaste toda a criação; porque pela rebeldia contra os
divinos estatutos, mandamentos e juízos, abusaste de todas as coisas que,
segundo a vontade de Deus, te deveriam servir: das criaturas, dos merecimentos
alcançados, das misericórdias de Deus, dos dons gratuitamente outorgados, e do
prêmio prometido.
Depois de atentamente
considerar tudo isto, toma teu luto como teu filho único, chora amargamente;
faze correr uma como corrente de lágrimas de dia e de noite; não te dês
descanso algum nem se cale a menina de teus olhos.
Deseja, contudo, os dons
divinos, elevando-te pela chama do divino amor, até Deus, o qual tão
pacientemente suportou nos teus pecados, tão longanimamente esperou, tão
misericordiosamente te reconduziu à penitência, concedendo-te o perdão, infundindo-te
a graça, prometendo-te a coroa, enquanto de tua parte Lhe ofertaste - ou antes
d'Ele recebeste para Lhe ofertar, - o sacrifício de um espírito atribulado, de
um coração contrito e humilhado por meio de sentida compunção, confissão sincera
e satisfação condigna.
Deseja, digo, muito a
benevolência divina por uma larga comunicação do Espírito Santo, deseja mais a
semelhança com Deus por uma imitação exata de Cristo crucificado, deseja
muitíssimo a posse de Deus por uma visão clara do Eterno Pai, para que na
verdade cantes com o Profeta: "A
minha alma arde em sede por Deus forte e vivo; quando irei e aparecerei diante
da face de Deus?"
Excerto do livro "A direção da alma e a vida
perfeita"
Por São Boaventura
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