A EDUCAÇÃO DA GRATIDÃO
(Excertos do livro: “Donzela cristã”,
de Pe. Matias de Bremscheid)
Continuação...
PARTE 2
3º - A gratidão é também uma virtude que se pode, facilmente, exercitar.
Sem dúvida, há casos em que a prática de certas virtudes oferecem dificuldades. Por exemplo, um adversário ou inimigo, que de muitos modos, te embaraça e procura contrariar e frustrar as tuas intenções e os teus planos, que não desiste de te ofender, às vezes gravemente; como não será difícil, neste caso praticar essa virtude cristã do amor ao próximo!
Quão difícil te não será em tais circunstâncias observar a palavra do Divino Salvador: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, e orai por aqueles que vos perseguem e caluniam” (Mt., 5,44).
E não será também, muitas vezes difícil e árduo para uma moça, o conservar a pureza do coração? Quando, no seu interior, se levantam violentas e obstinadas tentações, e talvez externamente se lhe deparam perigos sedutores, não terá então necessidade de combater, seriamente, e estar, sobretudo, atenta e precavida, para não sofrer nenhum dano?
Dá-se o contrário, com a gratidão. Para exercitá-la não precisa empenhar-te em grandes e difíceis combates, não tens necessidade de afastar perigos externos, basta que sigas o pendor inato e nobre do teu coração. Basta apenas que às pessoas que se mostram benévolos para contigo, tenhas uma palavra de agradecimento, uma reconhecida apreciação do benefício e que lhes faças uma ou outra vez algum pequeno favor.
Não é isto extremamente fácil, não é isto um alívio para o teu próprio coração?
E embora a gratidão pelos benefícios recebidos exigisse um sacrifício ainda maior ou a retribuição de maior favor, este sacrifício será feito com certo entusiasmo e infundirá, no coração, tão grande alegria, que dificilmente se poderá sentir o seu peso, ou incômodo. Não há, com efeito, nenhuma virtude tão fácil de se praticar, como a gratidão: eis porque merece tanto maior censura quem se mostra ingrato.
4º - A gratidão é uma virtude que nos granjeia a benevolência dos outros e os torna propensos a conceder-nos novos benefícios.
Diz São João Damasceno: “Assim como um pequeno remédio muitas vezes nos livra de uma doença grave, assim também o sincero agradecimento pelos pequenos benefícios, alcança-nos amiúde grandes favores”.
Ninguém gosta de tratar com o ingrato, por que geralmente, é mesquinho, egoísta e enfadonho. Ninguém gosta de lhes fazer benefícios, porque não deseja ver os seus dons tratados com indiferença e desprezo.
Com a pessoa educada, acostumada a agradecer os favores, todos gostam de tratar, em razão da sua bondade interna e nobreza de sentimentos: de cada benefício recebido e de cada favor que lhe concedem, faz com que um suave laço que o liga ao seu benfeitor.
Enquanto a ingratidão favorece o egoísmo, a gratidão torna o amor ao próximo mais intenso e cordial, conquista renovada benevolência dos nossos semelhantes.
Sê, portanto, agradecida sempre. Antes de tudo e em primeiro lugar, a teu Deus e Senhor que é, sem dúvida, o teu maior Benfeitor.
Com o Rei Salmista, podes também tu dizer: “Que dareis em retribuição ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito?” (Sl. 115,3). Adquire o santo costume de agradecer a Deus todas as noites, em breves palavras, todos os favores que te fez. E cada vez que te conceder um benefício especial ou te distinguir com uma felicidade particular, não deixes de Lhe agradecer, ainda do íntimo da alma e de todo o coração.
Sê, depois, agradecida a teus queridos pais que, desde os primeiros momentos da tua existência te consagraram o seu maior amor e cuidado.
Com muita razão diz São Lourenço Justiniano: “Enquanto vivermos sobre a terra, seremos sempre devedores a nossos pais. Não poderemos jamais saldar a grande dívida que com eles contraímos”.
Pelo menos, em parte, havemos de procurar fazê-lo do melhor modo possível. Por gratidão proporciona a teus pais, com teu bom proceder, grande alegria; por tua aplicação e vida virtuosa, esforça-te para seres as delícias, o orgulho deles.
Quão triste e lamentável, uma filha adulta não causar senão aflições aos seus maiores benfeitores terrenos, os pais, e amargurar-lhes a existência!
Deus não há de olhar, com desprezo, para tais filhas e subtrair-lhes as suas graças?
Procura, sobretudo, quanto for possível confortar a velhice de teus pais; impõe-te mesmo de bom grado, se preciso, algum sacrifício, para que nada lhes falte. E se perdurar, não agaste; prefere abster-te do necessário a deixar que teus pais sofram privações.
Se morrerem, conserva grata recordação deles, cumpre-lhes fielmente as últimas vontades, pede a Deus pelo seu descanso eterno e mantém-lhes o túmulo com honra e veneração.
Sê, constantemente, filha agradecida a teu pai e tua mãe. Por último, sê também grata a quantos se mostram bem dispostos para contigo e te fazem benefícios. Tem sempre nos lábios uma palavra de agradecimento a quem te faz um favor; palavra que há de brotar de um coração realmente agradecido, e não por simples formalidade e mera cortesia.
Movida pelo sentimento de gratidão deves, além disto, estar pronta para de bom grado retribuir favores, e contente por proporcionar a outrem algum prazer.
No entanto, em qualquer ato de gratidão para com quem te fez benefícios, guarda-te, sempre, de te mostrares fraca e vacilante nos princípios fundamentais da religião.
Óbvio seria este perigo, quando um benfeitor muito famoso e influente fizesse grandes benefícios mas animado por princípios que contrariam o espírito de Jesus Cristo ou o senso cristão.
Muitos se expuseram a tal perigo, e com o tempo por deferência a um benfeitor poderoso, se tornaram pusilânimes e sem caráter.
Que gratidão é esta que desgosta a Deus e te conduz à perdição?
Sê portanto, grata; grata de coração. Sempre e em toda a parte saibas ser agradecida. Não sejas, porém, servil; guarda, mesmo com pessoa altamente colocada, a tua inflexibilidade e conserva-te sempre firme em teus princípios cristãos.
Visite nossos blogs associados:
+