A EDUCAÇÃO DA GRATIDÃO
(Excertos do livro: “Donzela cristã”,
de Pe. Matias de
Bremscheid)
PARTE 1
1º
- O sentimento de gratidão é de todo conforme a nossa natureza.
Diz o grande teólogo, Santo Tomás de Aquino: "Todo efeito segue a natureza da causa
que o produz, e de maneira proporcionada à mesma coisa". Ora, o
benfeitor é causa do benefício que produz. Portanto, deve o beneficiado voltar
ao benfeitor, e voltar com a inteligência que reconhece e com a vontade que
avalia o beneficio.
Exprimir por meio da inteligência e da vontade o
próprio reconhecimento, é praticar um ato adequado à natureza humana.
Corresponde a gratidão não somente à natureza humana, senão também às criaturas
irracionais, ao mundo animal.
É o que indica a comovente queixa de Deus, no
profeta Isaías: "Ouvi, céus, e tu, ó terra, escuta, porque o Senhor é
quem falou: Criei filhos e engrandeci-os, porém, eles me desprezaram. Conhece o
boi o seu possuidor e o jumento o presépio do seu dono; mas Israel não me
conheceu, e o meu povo não teve inteligência!" (Is. 1,2-3).
Até os próprios animais
não são indiferentes à gratidão. Certa vez, em Roma um escravo desertor, chamado
Androcio, fora lançado no anfiteatro a um leão, e a fera se pôs a acariciar o
escravo.
Maravilharam-se os espectadores.
A admiração, porém, chegou ao auge quando souberam
que o escravo, por espaço de três anos, tinha permanecido no deserto da África
e lá havia curado a pata deste mesmo leão. Foi o escravo imediatamente
indultado.
Ora, se os
irracionais, como o leão feroz, se mostram assim agradecidos, não será
profundamente vergonhoso para o homem, criado à imagem e semelhança de Deus,
não testemunhar nenhum amor e gratidão a seu benfeitor?
2º- A
gratidão é sinal de um coração nobre.
Quem não conhece a gratidão, manifesta-se
intimamente estólido acerca do bem que lhe fazem; não possui nenhum sentimento
nobre e delicado.
O egoísmo faz que se
desenvolva cada vez mais no seu interior a grosseria; torna-se vulgar e
mesquinho.
Coisa muito diferente sucede ao homem agradecido. Possui um coração nobre. De sentimentos
delicados, mostra-se reconhecido a cada benefício que recebe, a cada favor que
lhe fazem. É para ele um prazer e uma
necessidade declarar-se, novamente grato, em qualquer ocasião, quando não com
dádivas e presentes, ao menos com sinceridade e alegria.
Daí provém a suposição de que o homem agradecido é quase sempre um homem contente e satisfeito.
Ocorre-lhe amiúde, a grata lembrança desta ou
daquela atenção e amabilidade, que lhe demonstraram, embora pequena e
insignificante.
Sim, a
gratidão não olvida os pequenos benefícios, nem os mais ínfimos. Não é
isto, prova de um coração bom e nobre? Assim disposto, não se desenvolvem nele
a maravilhosa ação de graça? Ao passo que a ingratidão convoca, por assim
dizer, ao redor de si todos os maus espíritos e lhes franqueia a porta do
coração.
Visto ser a gratidão própria de um coração nobre, os santos foram também os homens mais
agradecidos. Como se distinguir nesta virtude o grande Rei Davi! Após a
morte de Jônatas, de quem recebera tantos benefícios, mandou que trouxessem à
sua presença o filho dele, que era coxo, e lhe restituiu todos os campos de
Saul (II Reis, 9).
Quando Davi se empenhou em guerra contra seu filho
ingrato, faltaram-lhe todos os meios de subsistência. Um velho rico trouxe-lhe
então o necessário. Para recompensá-lo quis Davi, conduzi-lo à Jerusalém no seu
palácio real, para que ele transcorresse ali a velhice. Como o velho recusasse,
em virtude da sua avançada idade, tomou-lhe Davi consigo o filho e cumulou-o de
todos os benefícios. Ainda, antes de morrer, pediu a Salomão que não esquecesse
o filho daquele velho e que fizesse comer à mesa.
Continua...
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