O beijo de Judas (Caravaggio) |
Da pusilanimidade à apostasia
Já não há quem se atreva a reclamar para a Igreja a totalidade de seus direitos, ficam resignados sem lutar, acomodam-se muito bem, inclusive no laicismo. E por fim, chegam a aprová-lo. Dom Delatte e o Cardeal Billot caracterizam bem esta tendência à apostasia:
"A partir de então, uma linha dividiria os católicos (com Falloux e Montalembert do lado liberal, na França no século XIX) em dois grupos: os que tinham como primeira preocupação a liberdade de ação da Igreja e manutenção de seus direitos em uma sociedade cristã; e os que primeiro se esforçavam por determinar o que a sociedade moderna podia suportar do cristianismo, para logo convidar a Igreja a se reduzir a este limite."[8]
Diz Billot que todo o catolicismo liberal está contido em um equívoco: "a confusão entre tolerância e aprovação":
"O problema entre os liberais e nós (...) não está em saber se, dada a malícia do século, deve-se suportar com paciência o que escapa ao nosso poder, e ao mesmo tempo trabalhar para evitar males maiores e realizar todo o bem que ainda seja possível; o problema é precisamente se convém aprovar (...) o novo estado das coisas, cantar os princípios que são o fundamento desta ordem de coisas, promovê-los pela palavra, pela doutrina, pelas obras, como fazem os católicos chamados liberais" [9].
Deste modo Montalembert com seu slogan "a Igreja livre no Estado livre"[10] será o campeão da separação entre a Igreja e o Estado, recusando admitir que esta mútua liberdade levaria necessariamente à situação de uma Igreja submetida a um Estado expoliador.
Do mesmo modo um De Broglie escreverá uma história liberal da Igreja, onde os excessos dos Césares cristãos ultrapassam o benefício das constituições cristãs. Assim também um Jacques Piou se fará o arauto da adesão dos católicos franceses à república: não tanto ao regime republicano, mas à ideologia democrática liberal; eis o canto da Ação Liberal Popular de Piou, por volta de 1900, citado por Jacques Ploncard d'Assac:[11]
"Nós somos da Ação Liberal Queremos viver com liberdade
Um sim ou um não, à vontade
A liberdade é nossa glória Gritemos: Viva a Liberdade!
Aclamemos a Ação Liberal
Liberal, liberal,
Para todos que a lei seja igual.
Seja igual!
Viva a Ação Liberai de Piou!"
Os católicos liberais de 1984 não se comportavam melhor quando cantavam seu canto da escola livre, nas ruas de Paris:
"Liberdade, liberdade, tu és a única verdade!"
Que praga estes católicos liberais! guardam sua fé no bolso e adotam as máximas do século. É incalculável o dano que causaram à Igreja com sua falta de fé e sua apostasia.
Terminarei com um trecho de Dom Guéranger, cheio deste espírito de fé de que vos falei:
"Hoje mais do que nunca (...) a sociedade tem necessidade de doutrinas firmes e coerentes consigo mesmas. Em meio à destruição geral das idéias, somente a asserção, uma afirmação nítida, sólida, sem misturas, logrará ter aceitação. Os ajustes se tornam cada vez mais estéreis e cada um arranca uma fatia da verdade (...). Mostrai-vos, pois, tal como sois no fundo: católicos convictos. (...)
Há uma graça unida à confissão plena e inteira da fé. Esta confissão, como diz o Apóstolo, é a salvação dos que a fazem, e a experiência mostra que é também daqueles que a escutam."[12]
Dom Marcel Lefebvre
Fonte: (Sim, Sim, Não, Não, edição em português, Nº 88, julho 2000.)
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[8] Dom Delatte, "Vie de Dom Guéranger", Solesmes, T II, pg. 11
[9] Citado pelo Pe. Le Floch, op. cit., pág. 58-59.
[10] Discurso de Malines. 20 de agosto de 1863.
[11] L'Eglise ocupée. DPF. 1975. pág. 136.
[12] Le Sens Chrétien de L'Histoire, Nouveile Aurore, Paris, 1977. pág. 31-32.
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